Monday, July 03, 2006

Mostra Cinema Pelo Mundo



Mostra Cinema Pelo Mundo

5º SANTA MARIA VÍDEO E CINEMA

Mostra Cinema Pelo Mundo
CINEMA: A ARTE DA TRANSGRESSÃO

Curadoria e Acervo de Carlos Reichenbach*
Realização Cineclube Lanterninha Aurélio

De 04 a 08 de julho (terça a sábado) ao meio-dia.

Local: Centro Cultural CESMA - Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria LTDA.
Auditório João Miguel de Souza (3º andar)

Rua Professor Braga nº 55 - Centro - Santa Maria - RS
Entrada Franca
Informações: Cesma (55) 3221- 9165

cineclubelanterninhaaurelio@yahoo.com.br
www.cesma.com.br/cineclube

Cinco filmes muito diferentes entre si, mas que de uma forma ou outra transgridem as regras do cinema convencional e descartável. Seus realizadores apostaram alto na vertente autoral, livre e, em alguns casos, quase experimental.

Abaixo, a programação da mostra e os comentários de cada filme elaborados por Carlos Reichenbach.

Dia- 04/07 - "Recordações da Casa Amarela"

(Portugal, 1989, 120 min)
Diretor: João César Monteiro

João Cesar Monteiro foi, ao lado de Manuel de Oliveira, o maior expoente do cinema lusitano. O personagem permanente de seus filmes, João de Deus, que ele mesmo interpretava, é a síntese do português mediano da classe média-baixa, medíocre e misógeno, "o pobre diabo" sempre ás voltas com donas de pensão mal humoradas, açougueiros mal encarados, virgens lascivas e outras "personalidades" das zonas ribeirinhas de Lisboa.

“Atormentado por uma doença e por outras vicissitudes, é posto no olho da rua quando tenta abusar da filha da dona da pensão. Sozinho e sem recursos, vê-se confrontado com a dureza do espaço urbano, e é internado num hospício. Sai do manicômio com firme propósito de cumprir uma missão "rica e estranha" que é sugerida por um amigo, tão doido como ele."

"Recordações da Casa Amarela", para a maioria dos críticos europeus o seu melhor trabalho, ganhou o Leãos de Prata do Festival de Veneza, em 1989.



Dia 05/07 – “O Retorno de Sweetback”

(EUA, 2004, 108 min)

Direção: Mario Van Peebles

O filme do ator-diretor Mario Van Peebles, autor do extraordinário "Panteras Negras" (o melhor "filme-denúncia" dos últimos anos) , é uma homenagem ao seu pai, Melvyn Van Peebles, um dos mais conceituados diretores da raça negra, nos Estados Unidos. "Retorno a Sweetback" pode ser chamado da versão negra do filme "Ed Wood", porque ambos narram a mesma obsessão de fazer cinema à qualquer preço.

Dia 06/07 - Visitante Q

(Japão, 2001, 84 minutos)

Diretor: Takashi Miike

Em apenas sete dias e ao custo irrisório de sete milhões de yens (aproximadamente 70.000 dólares), Takeshi Miiki rodou "Visitante Q", um drama perturbador, o retrato cruel (por vezes quase ofensivo) de uma família japonesa, com cenas que tangem o pornográfico, a necrofilia e o objeto, com uma câmera de vídeo digital Sony VX 1.000, inspirando-se no absurdo fenômeno dos reality-shows da televisão.

VISTANTE Q faz parte da série "Love Cinema", produzida pela companhia CineRocket. Pensado inicialmente para ser distribuido unicamente no mercado de vídeo e DVD, e estimulado pelos diversos prêmios recebidos em festivais, o filme de Takeshi acabou sendo lançado em alguns cinemas. Takeshi Miiki, o mais bem sucedido dos discípulos de Shohei Imamura (foi seu aluno da universidade), é atualmente um dos três diretores mais importantes do cinema nipônico.



08/07 - A Bela Intrigante

(França, 1991, 228 min)
Direção: Jacques Rivette

"A Bela Intrigante", de Jacques Rivette, narra também uma outra história de obsessão criativa. Um filme que transgride o tempo habitual do cinema comercial, buscando detectar em suas três horas de duração, o tempo real da inspiração de seu protagonista, um artista plástico.
Explora à exaustão a nudez da atriz principal e os detalhes do artista no processo de "reinvenção" da beleza. Filme único e magnífico; o mais doloroso sobre a relação entre o artista e seu modelo.



Dia 08/07 – Paganini

(Itália-França, 1989, 82min)

Diretor: Klaus Kinski

"Paganini" foi a única experiência na direção do genial e esquizofrênico Klaus Kinski. Que ninguém espere um cinema convencional, claro! Kinski concebeu seu longa metragem como um improviso musical, uma leitura pessoal e experimental da vida de Niccolo Paganini, que foi chamado de “o violinista do diabo” pela igreja católica, que o perseguiu obstinadamente. Kinski se identificava com o o virtuoso desvairado, libertino e libertário.
Ambos envolveram-se afetiva e sexualmente com várias mulheres da sociedade, incluindo algumas menores de idade. O produtor Augusto Caminito (“Forever”, de Walter Hugo Khouri), com quem Kinski havia filmado “Nosferatu a Venezia”, aceitou o desafio de produzi-lo e logo se arrependeu quando assistiu aos primeiros copiões enviados pelo laboratório.
Eram mais de trinta minutos de cenas abstratas (muitas vezes filmadas pelo próprio Kinski com a câmera na mão, correndo pelo cenário ou se agitando em cima de uma cama) e uma profusão de detalhes quasse ginecológicos de sua mulher na época, a bela Débora Caprioglio.

Quando o filme foi mostrado ao diretor Gilles Jacob, do Festival de Cannes, em sua versão editada pelo próprio Kinski, o júri de seleção o considerou pornográfico e um acinte ao gênio de Paganini. Kinski ficou possesso e o produtor Caminito resolveu remontar o filme longe do diretor.
Foi esta versão mais comportada que chegou aos cinemas. Mesmo assim, o filme
continuou mantendo sua principal qualidade, a ousadia formal.
“Paganini”, o filme, é um poema musical, um solo de improviso, um mergulho imagético e sonoro no êxtase e no frenesi das experiências extremas. Trabalhando com tores de várias nacionalidades, o diretor optou pelos diálogos em off, que não possuem muita (ou nenhuma) importância para o entendimento do filme.




*CARLOS REICHENBACH

Cineasta gaúcho.

Foi o homenageado nacional no 4º Santa Maria Vídeo e Cinema.
Dirigiu vários longas-metragens e alguns curtas.Entre seus trabalhos mais importantes estão:

Império do Desejo (1980)
Filme Demência (1985)
Alma Corsária (1993)
Dois Córregos (1999)
Garotas do ABC – 2003
Bens Confiscados - 2005

http://www.olhoslivres.com/pag1.htm



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